A história por trás dos exames de imagem
Muito antes dos exames de imagem existirem, havia apenas duas maneiras de saber o que acontecia com uma pessoa doente. O médico apalpava a área do corpo e percebia a anomalia ou, então, abria o paciente para investigar a parte interna e descobrir o que estava acontecendo ali. As cirurgias não eram procedimentos seguros e, por isso, só eram realizadas quando havia risco de vida.
Era uma época em que a medicina tinha poucos recursos e a expectativa de vida era baixa. Qualquer doença já era capaz de representar um risco real de morte – inclusive as ortopédicas.
Mas essa situação precária começou a mudar no fim do século 19. Foi quando a tecnologia começou, aos poucos, a transformar o mundo, revolucionando o diagnóstico na medicina.
A evolução dos equipamentos para exames de imagem
Corria o ano de 1895 quando as primeiras técnicas de diagnóstico por imagem começaram a ser inventadas. Primeiro, surgiram os raios X. Depois, outros aparelhos, hoje considerados comuns, como a tomografia e a ressonância magnética, por exemplo. Aos poucos, a ciência e a tecnologia passaram a oferecer alternativas de diagnósticos cada vez mais precisas e sem a necessidade de ter que optar por procedimentos invasivos.
A verdade é que a evolução do diagnóstico por imagem mudou o jeito de se fazer medicina.
Cada vez mais, novas tecnologias vêm aprimorando as formas de se gerar imagens do corpo com mais qualidade.
Hoje, as cirurgias só são realizadas em casos extremos. Se o paciente tem um nódulo, por exemplo, o médico não precisa mais abrir o seu corpo para descobrir de que tipo, tamanho e gravidade ele é. Em vez disso, basta fazer alguns exames de imagem do extenso rol que existe à disposição da medicina hoje.
Conheça aqui a história de como surgiram os principais exames de imagem à disposição hoje e como a tecnologia está diretamente ligada à evolução do diagnóstico na medicina no mundo.
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Os raios X
Em 1895, quando a medicina ainda estava presa a cirurgias precárias e sem tanta higiene, um físico alemão estava prestes a descobrir, na garagem de casa, um aparelho que revolucionaria o diagnóstico médico para sempre.
Wilhelm Conrad Roentgen fazia alguns experimentos quando descobriu um novo tipo de radiação ionizante que deixava marcas em alguns materiais sensíveis. Ele recriou, então, uma espécie de chapa fotográfica para testar os efeitos dessa radiação na impressão de diferentes objetos. Depois disso, ele quis incluir também o corpo humano nesses experimentos.
Wilhelm pediu, então, à esposa que posicionasse a mão esquerda entre o tubo emissor dos raios e a chapa, o que lhe proporcionou uma grata surpresa ao ver o resultado. A foto revelava a silhueta da mão da mulher e todos os ossos que a compunham, junto das partes moles. Foi a primeira radiografia que se tem notícia na história.
A descoberta rendeu a Roentgen um Prêmio Nobel de Física, conquistado seis anos depois, em 1901, e mudou a história dos diagnósticos.
O aparelho criado por Roentgen é usado até hoje, mais de cem anos depois de ter sido inventado. Sofreu atualizações, adaptações e, ainda hoje, vai sendo modernizado com a evolução da tecnologia. No entanto, os exames de imagem via sistema de raios X ainda possuem limitações, pois mostram imagens em apenas duas dimensões (2D), o que dificulta a identificação dos tecidos com nitidez.
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A tomografia
Passados mais de 60 anos da descoberta de Roentgen, um engenheiro eletricista inglês começou a se perguntar se os aparelhos de raios X seriam capazes de capturar mais informações do que conseguiam até então. Godfrey Hounsfield acreditava que, se usasse o computador, poderia ampliar as possibilidades de visualizar o interior do corpo humano, com mais detalhes, por exemplo.
Junto com o físico sul-africano Allan Cormack, ele testou um aparelho que, acoplado a um computador, construía imagens de vários ângulos e diferenciava os tecidos de acordo com a densidade. A invenção deu certo e foi assim que, em 1972, surgiu a tomografia. Sete anos depois, em 1979, os dois ganharam o Prêmio Nobel em Fisiologia e Medicina pela invenção.
O primeiro aparelho de tomografia do mundo foi instalado no Hospital de Atkinson-Morley, em Londres, e a primeira avaliação foi realizada, em 1971, em uma mulher com tumor do lobo frontal esquerdo. No Brasil, a tomografia chegou em 1977 e foi instalada no Hospital Beneficência Portuguesa, em São Paulo.
A tomografia segue os mesmos princípios da radiografia convencional, mas com algumas pequenas diferenças. Enquanto os raios X diferenciam apenas quatro tipos de tecidos, a tomografia mostra milhares de tons de cinza. Além disso, o tubo de raios X gira em torno do paciente examinado lançando raios em um detector, que gera imagens de “fatias” do corpo.
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A ressonância magnética
Mais ou menos na mesma época em que a tomografia computadorizada saía do papel, outra grande invenção envolvendo o diagnóstico por imagens, aos poucos, também ganhava espaço.
Nessa época, a ressonância magnética propriamente dita já havia sido inventada há mais de 20 anos. Porém, estava limitada só a estudos físicos e químicos. Em 1970, entretanto, o médico armênio-americano Raymond Damadian descobriu que ela poderia ser usada também como ferramenta médica diagnóstica. Ele analisou detalhadamente alguns tecidos de tumores de ratos sem precisar realizar cirurgias invasivas para tal e percebeu a boa utilidade que o instrumento possuía.
No ano seguinte, o químico norte-americano Paul Lauterbur aperfeiçoou a descoberta de Damadian e o físico britânico Peter Mansfield testou matematicamente os sinais da ressonância para gerar uma imagem tridimensional. Em 1973, apresentou ao mundo a primeira imagem por ressonância magnética de um organismo vivo do mundo, um molusco recolhido na praia por sua filha. Ele também construiu o protótipo do aparelho e foi o primeiro ser humano a ser escaneado de corpo inteiro pela máquina. Esse primeiro exame levou cinco horas para ser executado, enquanto hoje leva entre 20 e 40 minutos.
Apesar dos estudos paralelos, Lauterbur e Mansfield ganharam, juntos, o prêmio Nobel de Medicina em 2003. Raymond Damadian sentiu-se injustiçado por ter ficado de fora do reconhecimento, mas, ainda assim, é citado na bibliografia mundial como um dos inventores da imagem por ressonância magnética.
A evolução tecnológica mudou para sempre a história da medicina – ainda hoje interferindo diretamente na qualidade e precisão dos aparelhos. Quem sabe se daqui a alguns anos, os exames de imagem que conhecemos hoje também não vão ser considerados antiquados e obsoletos, tal qual achamos hoje dos recursos utilizados no passado?